Acordei com a absurda informação divulgada pelo Instituto Oxfam, que estuda a desigualdade no mundo, de que oito seres humanos possuem a mesma riqueza que metade da população mundial.
Até alguns poucos anos atrás, talvez nem cinco anos, eram 67 homens que possuíam a mesma riqueza que metade da população mundial, o que mostra que o sistema está gerando cada vez mais rapidamente essa enorme, colossal, abissal, desumana e a absurda desigualdade.
Vivemos hoje num mundo dominado por corporações, e essas são controladas por poucos homens. É para esse seleto grupo de seres humanos que são feitas as leis porque, com tanto poder econômico vem também todo o poder político. Parlamentos e líderes são facilmente comprados, e a música é composta para que apenas essa super-elite dance.
Nas palavras do linguista e ativista Noam Chomsky a única relação entre esse Capitalismo e Democracia é a contradição.
É de fato um paradoxo achar que em ditas democracias o poder está com o povo que deveria, assim, controlar todas as coisas porque, como explicou o filósofo político David Hume há séculos, em todas as sociedades, das mais brutais às mais livres, o governo pode controlar controlando a opinião.
Se você é capaz de controlar a atitude da população, assim como suas crenças, e manter o povo em isolamento ele jamais derrubará o sistema que os devora.
Segundo Chomsky, quanto mais livre uma sociedade mais necessário é que se exerça sobre ela o controle da opinião porque numa sociedade brutal pode-se controlar com o porrete, mas na sociedade que se supõe livre é preciso muita propaganda – e ela nos chega pelo noticiário e pela publicidade – para manter a população ignorante e doutrinada.
Exatamente por isso é fundamental que se venda a ideia de que o capitalismo, por pior que seja, ainda é o melhor dos sistemas porque a alternativa a ele são sociedades como a da Coreia do Norte, e líderes como Stalin ou Mao. “É isso o que você quer? Então aceite de bom grado o capitalismo e todas as suas mazelas porque pode ser bem pior”, é o recado.
É mais ou menos como se antes da Revolução Francesa que degolou o Feudalismo – e Maria Antonieta – a nobreza gritasse: “Ah, esse sistema não agrada vocês? Pois saibam que ele é o melhor entre todos porque a alternativa é a escravidão”.
Não havia como, naquele momento, antecipar que o Capitalismo que estava nascendo com o fim do Feudalismo era uma opção bem melhor do que a escravidão – como de fato foi. O que se sabia era que o Feudalismo teria que morrer porque se tratava de um sistema que oprimia e gerava enormes desigualdades. O povo não aguentava mais, e foi às ruas carregando a bandeira da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
E por alguns anos o Capitalismo de fato pareceu adequado. Até não ser mais capaz de distribuir toda a riqueza que se mostrou capaz de gerar – às custas da selvagem exploração não apenas do homem mas também do planeta -, e de fracassar na promessa de fornecer liberdade, igualdade e fraternidade.
Mas o medo é uma poderosa arma, e a dívida um poderoso instrumento para criar o trabalhador ideal, aquele que não pode fazer muita coisa para mudar o cenário porque é preciso trabalhar 15 horas por dia para pagar o financiamento de todos os bens que nos dizem precisamos ter; então o sistema atual trabalha distribuindo medos e dívidas e, assim, nos mantém convenientemente controlados e doutrinados.
Além do noticiário o outro instrumento usado para controlar nossas atitudes e opiniões é a publicidade, que todos os dias trabalha para fabricar consumidores desinformados capazes de tomar decisões irracionais (o oposto do que deveria ser o livre mercado: consumidores informados tomando decisões racionais).
O consumismo é um ato individual, é um “cada um por si”, e o sistema precisa encorajar isso a fim de que nos mantenhamos passivos e na nobre luta por um lugar ao sol.
Explica Noam Chomsky: você não vê publicidade na TV que diga “vamos construir um enorme sistema de transporte público”.
Você liga a TV e vê que tem a possibilidade de voltar para casa do trabalho fazendo um financiamento suave e dirigindo um Fiat ou um Ford, mas não de metrô. Então essa Liberdade tão alardeada pelos defensores do atual sistema não é assim tão livre.
Os mesmos conceitos são usados em eleições, com políticos vendidos como produtos e apelando para o tal do inspiracional que vem repleto de falsas promessas, e para a falta de informações verdadeiras.
Coisas assim levam a população da maior cidade do país a eleger um fanfarrão de dentes branquíssimos e aparência impecável como João Doria para a prefeitura.
Há, claro, saídas para o atual cenário distópico, mas elas passam pelo livre acesso à informação e por reformas e investimentos sociais, como FDR fez nos Estados Unidos depois da crise de 29, e exatamente o oposto do que tem sido feito hoje – no Brasil do pós golpe e no mundo.
Elas passam por fazer com que a classe média entenda que tem os mesmos interesses da classe trabalhadora e não os dessa super-elite que o sistema produziu.
Mas há também uma outra alternativa, mais radical, mas de efeito prolongado: mudar o sistema.
O que vai substituir o capitalismo não temos como saber ainda, até porque não se pode desenhar sistemas sociais e testá-los na teoria; é preciso colocá-los em prática.
Mas para que pensemos em um novo sistema é preciso primeiro aceitar que o atual fracassou e que não existe vida decente em um mundo no qual oito pessoas estão sentadas sobre a mesma riqueza que 3,6 bilhões de outras almas precisam compartilhar.
Mais um texto de ótima qualidade, parabéns e obrigado!
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Sensacional a colocação de suas palavras! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
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❤
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Cada texto (da Milly) melhor que o outro…
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